terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Se Fernando Pessoa também fosse mico

Se Fernando Pessoa fosse um mero micoderealejo, ao invés de escrever isso, ele talvez escreveria isso:
Fazer um software e reconhecê-lo mau depois de feito é uma das tragédias da alma. Sobretudo é grande quando se reconhece que essa obra é a melhor que se podia fazer. Mas ao escrever um software, saber de antemão que ele tem de ser imperfeito e falhado; ao está-lo escrevendo estar vendo que ele é imperfeito e falhado _isto é o máximo da tortura e da humilhação do espírito. Não só as linhas que escrevo sinto que me não satisfazem, mas sei que as que estou para escrever me não satisfarão, também. Sei-o tanto filosoficamente, como carnalmente, por uma entrevisão obscura e gladiolada. (...) E o maior castigo é o de saber que o que escrevo resulta inteiramente fútil, falhado e incerto. Em criança escrevia já meus códigos. Então escrevia-os muito maus, mas julgava-os perfeitos. Nunca mais tornarei a ter o prazer falso de produzir o programa perfeito. O que escrevo hoje é muito melhor. É melhor, mesmo, do que o que poderiam escrever os melhores. Mas está infinitamente abaixo daquilo que eu, não sei porquê, sinto que podia _ou talvez seja, que devia_ escrever. Choro sobre os meus códigos maus da infância como sobre uma criança morta, um filho morto, uma última esperança que fosse.
Vai me dizer que não concorda com o nosso Fernando Pessoa imaginário?

Por sugestão do Hermes, adaptei este texto de Fernando Pessoa substituindo 'versos' por 'linhas de código' ou apenas 'código'. Também substituí 'obra' por 'software' ou 'programa', e a parte que eu não consegui simplesmente aplicar um sed 's/verso/código/' | sed 's/obra/programa/' removi.

Por favor, não me crucifique pelo, digamos, plágio! Vai me dizer que nunca copiou-e-colou um código e aplicou alguns sed para acertar os detalhes?

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