terça-feira, 27 de abril de 2010

Resultados da pesquisa sobre salários de programadores - parte 3 - experiência

Na última postagem vimos que há uma correlação direta entre escolaridade e salário. Hoje vamos ver que o mesmo não acontece com o tempo de experiência. O gráfico abaixo mostra que os salários estão espalhados por todo o espectro e que ter mais experiência não significa necessariamente ter um salário mais alto.

Por que será? Eu tenho algumas teorias. Primeiro, lembrem-se que a pesquisa era para profissionais que atuam com programação. Acontece que no Brasil é difícil seguir uma carreira longa atuando como programador. Programadores experientes acabam se transformando em "analistas" que não programam, ou então são levados a atuar na área gerencial.

É uma pena. A programação é uma atividade difícil que leva muitos anos para se aprender a fazer bem feito. Quando os programadores estão começando a ficar realmente bons, são obrigados a mudar de carreira pelas "forças de mercado". Eu já entrevistei dezenas de candidatos ao cargo de engenheiro de software e posso afirmar que é raríssimo encontrar um programador no Brasil com mais de 10 anos de experiência de mercado, e quem dirá com 20, 30 ou 40 anos de experiência. Esses profissionais existem em qualquer outra área, mas não na programação.

Olhem o gráfico novamente. A vasta maioria dos pesquisados tem 6 anos ou menos de experiência. É muito pouco para haver uma variação significativa de salário. Dentro dessa faixa de experiência, é mais provável que outras variáveis tenham uma influência muito maior sobre os salários, como a escolaridade, região, tipo de atividade, e assim por diante.

Onde estão os programadores com 20 anos de experiência? Deixem-me fazer uma pesquisa pessoal. No final desse ano completarei 20 anos de formado. Na minha turma formaram-se 25 cientistas da computação. Quantos deles ainda trabalham com programação? Não tenho certeza, pois perdi o contato com muitos deles. De cabeça, só consigo pensar em um: eu. Só que eu não passei esses 20 anos programando, não tenho 20 anos de experiência. Acredito que deva haver pelo menos 2 ou 3 outros na minha turma que ainda programam, mas não mais do que isso. Em outubro haverá minha reunião de turma, e aí saberei ao certo. Prometo contar pra vocês.

E isso tudo quer dizer que então não há esperança para quem quer seguir carreira de programação? Há sim. À medida em que a indústria amadurece, as empresas percebem cada vez mais o valor dos programadores experientes. Na América do Norte já é comum existir planos de carreira puramente técnicos para aqueles que não querem transitar para o ramo gerencial. Aqui também isso é cada vez mais frequente, principalmente em empresas cujo ramo principal de atividade é a informática. Se você gosta de desenvolvimento de software, pode seguir em frente que você só vai ter de parar quando quiser.



3 comentários:

  1. Triste realidade, tenho 25 anos de experiência na área, e provavelmente uns 15 de programação, mas gostaria de terminar a vida programando. Só que as pessoas te olham quando tu fala isso como se tu fosse o maior incompetente do mundo, o verdadeiro looser. Não vejo muita saida não, a não ser terminar deixando os cabelos crescer em formato pontudo (PHB) ou virar analista. Lamentável. O pior é que todos acham que qualquer um programa, que é uma atividade menor e sem importância.

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  2. Bah. Diga a essas pessoas que no Google, loser é quem não programa, e que um gerente de engenharia que não programa não é respeitado por ninguém. No Google não existe "analista", existe desenvolvedor de software - todo mundo faz análise, projeto, desenvolvimento e teste.

    Essa distinção entre analista e programador é estúpida e já passou da hora de acabar. Programador que não sabe fazer "análise" é incompetente, assim como analista que não sabe programar.

    E quem acha que qualquer um programa devia tentar implementar uma busca binária sem erros pra ver se é fácil mesmo.

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  3. Torsten,

    Embora concorde plenamente com você, na minha opinião, o problema é cultural. Pelo que vejo aqui, no Brasil, a maioria das empresas "consolidadas" na nossa área usa um modelo de hierarquia comparável ao da construção civil: quanto mais você "sabe", menos "grunt work" você supostamente deve fazer. Você pode gritar, espernear e argumentar que "programação" não é "trabalho pesado", mas o diretor da empresa vai dizer que esse é o "sistema", que ele tem funcionado "bem" há décadas e talvez até puxar uma planilha do Excel com métricas arbitrárias que "provam" isso. *

    A diferença é que nós, que crescemos lendo Dilbert, sabemos o estrago que um chefe ou gerente que não entende o "grunt work" pode fazer :-) Você já vê os efeitos desta mudança de mentalidade em algumas empresas mais novas no Brasil. Infelizmente, lidar com os mastodontes é outra estória.

    * Eu provavelmente estou exagerando. Mas fazer o quê? Hipérboles são divertidas.

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